terça-feira, 28 de maio de 2013

...estaremos prontos?

Ontem aconteceu-me uma coisa extraordinária, ao ponto de ser o melhor que me aconteceu nos últimos anos. Ontem reencontrei algo que tinha perdido no passado, algo que perdera há 14 anos de uma forma inexplicável e sem razão aparente.
Não podia deixar de partilhar, que passados todos estes anos as extremidades do fio podem voltarar a unir-se num laço perfeito.
Não podia deixar de partilhar, que tenho um sorriso estupido no meu rosto!
Penso que queremos abraçar a vida... estaremos prontos?

terça-feira, 23 de abril de 2013

...uma tragédia teria acontecido se estivesse a conduzir o habitual Jimny.

 
A madrugada do passado Domingo foi propicia em novas experiências, depois de um excelente jantar em casa de amigos, e já perto da 1 da matina, fui envolvido num acidente de automóvel. Todos os estrangeiros aqui em Angola sabem bem os problemas que isso pode trazer devido ao ímpeto na defesa dos seus que os Angolanos apresentam mesmo não se conhecendo, não foi o caso, felizmente.
Tentarei aqui descrever esta experiência que desde já não desejo a ninguém.
Após ter saído de marcha a trás da garagem do edificio em que jantei , e antes mesmo de engrenar a primeira mudança, escutei uma travagem, olhei pelo retrovisor e observei um carro a tentar controlar a sua trajectória, à velocidade que circulava e fruto da provável falta de manutenção senti que o embate era objectivo, nada podia fazer se não esperar a consequência do embate iminente. Uma travagem de mais de 100 metros não foi suficiente para evitar o choque.
Sem perceber como, o embate no Land Cruiser acabou por ser quase inconsequente devido à resistência do pára-choques em ferro, a colisão verificou-se no canto esquerdo da traseira do meu veiculo, projectando o outro para cima de um separador central desfazendo completamente a sua frente, no momento pensei “morreram todos”, mas felizmente saíram 3 pessoas visivelmente alcoolizadas do seu interior e sem aparentes mazelas.
Foi aqui que realmente começou uma experiência inolvidável apesar de não ser de todo agradável. Após vários telefonemas a policia não aparecia, até que alguém simpaticamente se ofereceu para ir pessoalmente chamar a polícia em troca de 500 Kz, assim foi.
A bater as duas badaladas do dia chegou finalmente a polícia, tomando conta da ocorrência. Neste espaço de tempo o condutor do outro veículo ausentou-se, alguém comentou que fora buscar os seus documentos e beber uma Cuca.
A polícia simpaticamente informa que os problemas de acidentes de trânsito são tratados na esquadra e convida-me a entrar no carro da polícia bem como ao outro condutor. Questionei um dos policiais como seria possível tratar do assunto na esquadra quando o acidente era ali e todas as evidências do mesmo estavam materializadas naquela centena e meia de metros, de nada valeu, fui conduzido à esquadra.
Após alguns minutos de espera no exterior fomos convidados a entrar numa sala às escuras onde se encontravam duas cadeiras em frente a uma secretária, do outro lado sentava-se um polícia munido de uma pequena lanterna. Devido à ausência de luz, tive dificuldade em observar um croqui do acidente, ao qual sugeri a inclusão de mais alguns dados objectivos, nomeadamente outros veículos estacionados no local.
Mas voltando um pouco atrás, assim que me sentei para o inquérito senti de imediato que tudo seria tranquilo apesar das condições em que se iria realizar, o polícia mostrou uma simpatia que não imaginei no curto percurso até à esquadra.
Documentos dos veículos para um lado, identificações para outro, lá fomos à vez explicando a versão dos factos ao policia que a espaços colocava algumas questões, entretanto é pedido para aguardarmos na sala enquanto vão ao local do acidente verificar alguns dados e procurar testemunhas.
Passados uns longos 40 minutos às escuras na sala, o condutor do outro veículo abandona a mesma dirigindo-se para o exterior da esquadra, por sua vez decidi manter-me sentado, às escuras, com um calor insuportável e continuando lentamente a ser devorado pelas melgas existentes na sala.
Não tardou um minuto para regressarem os policiais, informando o outro condutor que não iriam tolerar faltas de respeito às suas ordens e que caso tal se voltasse a verificar passaria a noite numa cela. Acho que foi o único momento em que esbocei um ligeiro sorriso.
Após mais algumas diligências processuais, tive dificuldade em recuperar os meus documentos pessoais, mas no final acabaram por me serem devolvidos sem que o outro condutor se tivesse apercebido, uma vez que é comum os documentos tanto pessoais como dos veículo ficarem na esquadra para serem fotocopiados no dia seguinte uma vez que era noite, neste caso implicaria com muita sorte a devolução na segunda-feira.
Com isto, já passava bem das 4 horas da manhã, quando consegui tranquilamente obter o número do processo e abandonar a esquadra na companhia dos meus amigos que me acompanharam em carro próprio até à esquadra e pacientemente aguardaram que tudo se resolvesse, a eles o meu muito obrigado.
Apesar das horas que demoraram as coisas a ficarem resolvidas, tudo foi serenamente tratado, devo realçar a simpatia dos polícias no modo como conduziram todo o processo. Tal como disse anteriormente, foi uma experiencia que não desejo a ninguém mesmo tendo terminado como terminou.
Ao terminar estas linhas tenho plena consciência que na madrugada de Domingo acabou por existir um verdadeiro milagre, uma tragédia teria acontecido se estivesse a conduzir o habitual Jimny.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

...a vida não tem preço!

Desde que cheguei a Luanda que existe algo que me atormenta, a insegurança que se sente ao virar de cada esquina apesar de ser uma das capitais do mundo com maior presença policial por metro quadrado. É certo que evitamos passar perto da polícia, pelo menos quando estamos ao volante, mas esse é outro assunto.
O que quero reflectir aqui é que as ruas de Luanda continuam a transportar perigo, quer nos acidentes fruto da velocidade e do desrespeito das regras de trânsito, quer nos assaltos á mão armada, muitos destes em plena luz do dia.
A grande maioria dos assaltos à mão armada são realizados aos condutores de automóveis, os assaltantes aproximam-se em motas, apontam uma arma e pedem que se entregue todos os valores que tenhamos, depois arrancam a toda a velocidade pelo meio do trânsito, sem existir qualquer tipo de possibilidade de identificação.
O maior problema é que estamos nas mãos deles, é como uma roleta russa, é real a probabilidade de se disparar a arma, depende do modo como reagimos e do humor dos assaltantes.
O melhor conselho que posso dar é que em caso de assalto e sempre que se observe a presença de uma arma, o melhor é não pensar e entregar tudo para não se correr muitos riscos. O crime constitui um grave problema em Luanda.
Vou escutando aqui e ali alguns relatos de assaltos à mão armada, tanto a Angolanos como a estrangeiros, alguns deles manifestam uma violência extrema, são meramente relatos de boca em boca sem qualquer tipo de relevo dado pela comunicação social, a meu ver um erro, pois a sua divulgação serviria de alerta e promoveria a prevenção.
Esta minha tormenta sobre a insegurança, aumentou desde o momento que tomei conhecimento de um assalto a alguém que me é próximo.
O Pedro e o Carlos, como lhes vou chamar para não identificar as pessoas em causa, dois Portugueses, estavam em casa tranquilamente a dormir, pouco passava das zero horas quando escutaram alguém que tentava arrombar a porta.
Não conseguiram, fez-se silêncio durante alguns minutos, o suficiente para o Pedro e o Carlos levantarem ligeiramente a guarda e respirarem de alívio.
Ainda não recompostos viram o vidro da sala ser desfeito pelo arremesso de um bloco de cimento e a casa invadida por cinco assaltantes de armas em punho.
O Pedro tentou reagir e foi apunhalado num ombro, um golpe suficientemente profundo para o imobilizar e evitar qualquer tipo de reacção por parte do Carlos.
De arma apontada à cabeça, o Pedro foi obrigado a entregar alguns bens de fácil transporte que tinha em casa, 3 portáteis, 5 telemóveis e algum dinheiro considerável, não contentes arrastam o Pedro para fora da casa até ao seu carro e obrigam-no a entregar mais dinheiro que se encontrava no interior da viatura, isto porque o Pedro de arma apontada à cabeça não teve alternativa se não aceder a tudo por forma a preservar a sua vida.
Obrigado a regressar ao interior da habitação, o Pedro junta-se ao Carlos que estava de joelhos no chão manietado por um dos assaltantes, antes da fuga, os cinco assaltantes que aparentavam andar na casa dos 20 anos, disparam alguns tiros indiscriminadamente no interior na casa e desaparecem na noite escura que nem ninjas.
Durante este assalto que foi estimado em cerca de 15 minutos, não existiu qualquer reacção por parte de vizinhos, como aliás seria de esperar. No final foi um enorme susto que poderia ter valido a vida de ambos.
A grande curiosidade deste episódio, foi que o habitual guarda da residência nessa noite não compareceu ao trabalho, e até hoje não deu mais sinal de vida.
Situações como esta infelizmente são comuns aqui em Luanda, este relato é real e aconteceu há menos de 72 horas.
As armas de fogo utilizadas nestes tipos de assaltos provam que o processo de desarmamento da população deverá carecer de maior sensibilização e intervenção das autoridades policiais Angolanas, sobretudo com medidas enérgicas de punição aos infractores.
A paz social que todos pretendem e que felizmente vai aumentando de ano para ano, exige todavia uma acção contínua, designadamente na garantia da segurança de pessoas e bens, ninguém se pode esquecer que a vida não tem preço!

sábado, 13 de abril de 2013

Ninguém pode ficar indiferente à mulher Angolana.

Ninguém pode ficar indiferente à mulher Angolana, antes de mais são extremamente simpáticas, depois a grande maioria são bonitas. Tenho observado que as Angolanas são mulheres completamente resolvidas com o seu corpo, a Angolana moderna é sensual e não tem qualquer problema em realçar as formas do seu corpo, já a Angolana mais tradicional é despreocupada nesse campo. Nas várias visitas que faço ao Caxito, vou reparando que a mulher Angolana que vive fora da grande cidade, ainda é mais resolvida com o seu corpo, exemplificando, não tem o mínimo problema em se despir completamente para tomar banho numa vala de rega junto à estrada onde o movimento é constante, não se preocupa minimamente com quem está por perto, o corpo e a nudez são naturais, não existe qualquer pudor.
Isto que acabei de constatar pode explicar muita coisa, as Angolanas têm filhos muito prematuramente, talvez fruto desta liberdade que têm em relação ao corpo e à forma despreocupada como abordam a sexualidade. Ter filhos depois dos 14 anos é muito comum para uma Angolana.
Diariamente transito na estrada que passa frente à maternidade de Luanda, nunca imaginei ver tantas jovens a cruzar aqueles portões, umas grávidas e outras com bebés nos braços, são dezenas para não dizer que são centenas.
Actualmente ainda não consegui perceber o que as autoridades competentes na matéria e os sociólogos deste país pensam em relação à situação das jovens Angolanas, sentem como um problema social, ou  é simplesmente normal? Digo isto, porque apesar de escutar muitas vezes no rádio que existem planos de prevenção e planeamento familiar para as jovens, entendo que a mensagem não chega de forma contundente a estas jovens em primeira instância e aos jovens de sexo masculino em segunda instância.
A mensagem está mais vocacionada para a prevenção do HIV uma vez que este é um problema considerado prioritário, que para o planeamento familiar, a meu ver estas duas realidades são indissociáveis e mereceriam uma maior atenção conjunta.

Voltando à mulher Angolana moderna, que foi o que me motivou a escrever esta crónica, a sua postura exótica de mulher  Africana aliada aos padrões mais ocidentais que apresentam é uma mistura de sensualidade inigualável. Muito facilmente nos podemos apaixonar por algumas destas mulheres, com tudo o que isso pode implicar e que explicarei um dia destes.
Agora entendo porque a escolha da Miss Universo de 2011 recaiu numa Angolana e o furor que muitas destas Angolanas espalham actualmente pelo mundo. Ninguém pode ficar indiferente à mulher Angolana.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

...hoje é um dia importante.

As armas em Angola calaram-se há 11 anos, hoje o povo Angolano veio à rua comemorar o dia da paz e da reconciliação nacional.
Gostei de ver os milhares de jovens vestidos de branco na marginal de Luanda a comemorarem esta efeméride. Segundo noticias oficiais, cerca de um milhão de citadinos de Luanda assistiram ou ainda assistem, na Marginal, Avenida 4 de Fevereiro, ao festival denominado “angola canta a paz”.
Não sei se serão assim tantos os populares, mas de facto Luanda hoje assiste a uma manifestação de alegria que muito me apraz registar. Pela manhã assisti à chegada de parte destes milhares de jovens, que vindos dos municípios limítrofes da cidade coloriram e contagiaram as principais artérias da cidade, só por si eles são sinónimo de que este país está a mudar.
Pelo que me contaram, seria impensável à pouco mais de uma década assistir a algo deste género.
Angola nestes últimos 11 anos iniciou um processo de modernização, os resultados do investimento que consegui apurar são assustadoramente elevados, por exemplo na educação em menos de meia dúzia de anos o número de salas de aula não duplicou, nem triplicou, quase que quintuplicou.
As crianças e os jovens Angolanos hoje em dia não necessitam de grandes deslocações para terem acesso à educação, a chamada escola pública, ao invés do que sucede em Portugal.
As comemorações de hoje, dia 4 de Abril, são direccionadas para os jovens, eles são o futuro do país e “Angola” começa a perceber isso mesmo.
Todavia, nem tudo são rosas para estes jovens, eu continuo diariamente a ver centenas (sabendo que são milhares) de jovens nas ruas da capital, fazendo de tudo para ganharem meia dúzia de dólares, muitos deles são simpáticos e ganham a vida de uma forma minimamente honesta, mas a maioria o que pretende é dinheiro fácil, para isso o melhor que conseguem é tentar ludibriar o próximo.
Quando em Luanda estaciono o carro, de imediato um “puto” aparece do nada e fecha os espelhos do carro, depois diz que tenho de pagar o serviço e uma taxa de 200 Kz, se não pago, quando volto tenho o carro trancado por uma mota, resultado, ou pago os 200 Kz ou não tiram a mota.
É este tipo de situações de dinheiro fácil que tiram estes jovens da escola e da possibilidade de terem um futuro diferente, é para eles que Angola tem de trabalhar e direccionar as atenções, eles são o futuro da nação.
Agora, e uma vez que o Sol já iniciou a sua fase de ocaso, e hoje é um dia importante, está na hora de me juntar à festa, vou preparar-me para fotografar o fecho das comemorações, pelo que me disseram vai existir um magnifico fogo de artificio na baia da ilha do Cabo.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Viagem à margem do Rio Wezo.

As novas experiências que estou a viver em Angola vão se sucedendo de uma forma rápida e surpreendente ao ponto de considerar algumas como as melhores que tive em toda a minha vida. Umas são muito negativas outras admiravelmente positivas, destas últimas gostaria de retractar a que vivi há pouco mais de 48 horas.
O destino era um local algures nas margens do Rio Wezo, algo que só descobri quando ai cheguei, até lá andei completamente às cegas. O destino nunca me fora revelado apesar de eu ser a pessoa encarregue da missão e de ter a responsabilidade de transportar toda a comitiva.
Para evitar o trânsito saí de Luanda em direcção ao Caxito pelas 5 da manhã, nunca tinha conduzido à noite, melhor nunca tinha conduzido à noite e sozinho em Angola, devo dizer que é um verdadeiro perigo, os condutores dos veículos que circulam na faixa de sentido contrário conduzem quase sempre de máximos ligados, os peões atravessam a qualquer momento e em qualquer local da estrada, uma mistura verdadeiramente explosiva, conduzir nestas condições requer o dobro da atenção.
Poucos minutos antes das 7 da manhã já tinha feito o “mata-bicho” e estava tranquilamente à espera do Sr. "General" Leão, este seria o responsável por me guiar até ao destino. Primeiro diálogo com o "General":
_ “o Dr. trás os 10 saldos(1) que combinámos ontem?”,
_ “sim, trago Sr. General!”,
_ “óptimo, vamos comprar vinho antes de partirmos.”
Assim, sem mais, foi o primeiro contacto com uma pessoa que acabara de conhecer.
Esta viagem, ou melhor esta expedição seria guiada na íntegra pelo "General" Leão (apesar de eu ser o responsável oficial), é ele que decidirá onde se pára, e o que se faz nesse local, com que pessoas se fala, se se pode tirar fotografias (para não melindrar as pessoas) e inclusive onde e quando paramos para comer e fazer as necessidades fisiológicas.
A expedição foi preparada na véspera, entre outras tarefas, tive de carregar uma geleira com várias bebidas frescas, desde Coca-cola a água tónica, sem esquecer a celebre cerveja Cuca e claro está muita água mineral. Estas bebidas, ao contrário do que pensei, não estavam destinadas ao nosso consumo (excepto a água mineral), mas sim a oferendas aos Sobas(2) e a um ou outro agricultor ou caçador-recolector a quem o "General" decidisse ser merecedor de tal. Nada é ao acaso, as oferendas são essenciais tanto no caminho como no local de destino.
Mercado junto à estrada
Eram cerca das 8.40 da manhã quando recolhi o último membro da tripulação junto ao posto de controlo policial do chamado cruzamento da Barra do Dande, a uns bons 25 km da barra do Rio Dande.
A Helena, uma enfermeira que trabalhava num hospital aproveitou a nossa boleia até ao seu local de trabalho, fez-nos uma simpática companhia durante 15 km. Depois iniciamos o caminho de 95 km até aos nosso objectivo, com uma primeira paragem para comer a Sopa(3) num mercado junto à estrada que liga as províncias do Bengo e do Zaire, a poucos km da entrada da picada pelo mato dentro que nos leva ao Rio Wezo.
Pouco passava da 9.30 horas, enquanto eu comia uma sandes de queijo, e bebia uma Coca-cola para a cafeina despertar os meus sentidos, o "General", arrumou com dois copos de vinho tinto Monte Velho retirados do “pipalete” de 5 litros, e comeu um pedaço de carne de Jacaré que uma vendedora acabara de assar nas brasas espalhadas num circulo de pedras desenhado no chão. Nesse momento percebi para quem era o vinho que poucas horas antes tinha comprado, e fiquei a conhecer o cheiro agradável da carne de Jacaré assada.
Os três terminamos com uma banana, a minha crua, a do "General" e a do Santos, assadas, é que comer fruta em Angola sem sermos nós a descascar pode trazer um problema de saúde, para mais quando existe um surto de cólera em alguns locais fora da cidade de Luanda.
Finalmente soube o que é conduzir numa picada, passava bem das 10 da manhã quando iniciamos o percurso de 50 e picos km pelo deserto e mato dentro, um trilho que a espaços está degradado pela influência das chuvas, mas que se supera facilmente num veículo todo o terreno, o meu “Landinho” que ficou em Portugal ia gostar deste percurso. 
Compra de Caça
Fizemos algumas paragens em Bairros(4)que fomos encontrando pelo caminho, paragens para perguntar onde poderíamos encontrar caça à venda, até que encontramos alguém disposto a vender uma Seixa(5) por 1.500 kz, um preço de amigo segundo o "General". Fiquei no carro enquanto o "General" supostamente apurou a qualidade e frescura da peça de caça e negociou o preço da transacção, bem, a verdade é que fiquei dentro do carro meramente por precaução, uma vez que por aquelas bandas existe a forte probabilidade de nos confrontarmos com a mosca do sono, a famosa Tsé-tsé.
E eu a necessitar tanto de dormir, mas não desta forma!
Pedra Genga
Km a trás de km lá fomos palmilhando o trilho, 3 horas depois chegámos ao Rio Wezo, local que pensei ser o destino final, mas mais uma vez estava enganado, ainda teríamos mais 1 hora de caminho até chegar ao Bairro do nosso destino.
Para lá chegar teríamos de passar ao lado da Pedra Genga uma referência para todos os habitantes das margens do Wezo, um maciço granítico muito peculiar localizado entre a margem direita do Rio e a picada de ligação à povoação do nosso destino.
Foi o percurso da picada em pior estado, tive de recorrer várias vezes aos cavalos e à tracção 4x4 do Land Cruiser para sair da lama que encontrei a espaços, mas passada a hora prevista de caminho chegámos ao destino.
À entrada do Bairro está a escola, um local de construção recente que confina com um edifício colonial para o mesmo fim, o problema é que apesar da existência de mais de 40 crianças nesta povoação, a escola não funciona por falta de professor, "nenhum quer ir para este fim do mundo", comentou o "General".
Percorremos duas centenas de metros entre a escola e o final do Bairro para chegarmos ao local onde se encontrava o Soba da zona. Um sobrinho dos "General" Leão, Soba de um outro Bairro que passámos pelo caminho e que nos acompanhou nos últimos 17 km, saiu do Land Cruiser e foi anunciar a nossa presença e o que nos trazia a visitá-lo.
Sim, visitá-lo, porque é ao Soba que visitamos não à sua população, só após a sua ordem é que podemos de algum modo e restritamente contactar com os restantes habitantes, isto porque eu sou Mondelê(6), e também porque se estava a realizar um óbito(7)de um jovem de 31 anos que morrera na véspera em Luanda devido a uma doença súbita.
Ainda ao volante do veiculo, mas já parado numa sombra de Mangueira(8) olhei pela janela e reparei num grupo de crianças de olhar arregalado a observarem-me enquanto comentavam algo entre eles.
Obtida a devida autorização, sai do veículo e dirigi-me ao conselho onde além do Soba os restantes Homens do Bairro esperavam sentados num quase círculo, reparei que restavam 4 cadeiras vazias, calculei que seriam destinadas aos visitantes entre os quais me incluía, essas 4 cadeiras encontravam-se estrategicamente colocadas em frente ao Soba para facilitar a comunicação e a avaliação dos olhos dos visitantes.
No percurso de uma vintena de metros até ao conselho, as crianças que há poucos minutos me observavam, aproximaram-se e algumas delas agarram levemente as minhas pernas, eis quando ouvi o comentário mais surpreendente da minha vida, uma das crianças repete duas vezes… “é gente, é gente!”, fiquei com um nó na garganta e percebi a pureza daquela gente!
Sentado à esquerda o Soba
Curiosidade
O que se passou no conselho não vou divulgar publicamente, devo isso em respeito ao Soba, vou simplesmente dizer que foi uma experiência inesquecível e positivamente gratificante, deu para perceber que quase às portas de uma grande cidade como Luanda existe um mundo muito diferente, com gente de uma simplicidade incrível e de uma honestidade sem igual.
Saí daquele local interiormente uma pessoa diferente, ver a esperança de melhoria da condição de vida nos olhos daquelas pessoas foi marcante... sejamos nós capazes de o fazer!
Não deixei o local sem escolher o meu Imbondeiro, uma oferta do Soba para que eu seja sempre bem-vindo à sua comunidade, marquei-o orgulhosamente com um M e registei a sua imponência numa fotografia. 
Os cerca de 60 minutos em que contactei com estas pessoas acompanharam-me no pensamento durante as longas 4 horas de picada, isto já no regresso à estrada de alcatrão que os chineses estão a reabilitar e que confortavelmente me trouxeram de volta a Luanda, não sem antes fazer com uma paragem na Barra do Rio Dande para um fantástico pôr-do-sol como só África oferece.
Por-do-Sol na Barra do Dande
O meu Imbondeiro

(1)    1.000,00 Kz
(2)    O Soba é uma autoridade regional tradicional de Angola.
(3)   Designação para o pequeno almoço Angolano.
(4)    Um povoado do género aldeia no meio do mato formada por meia dúzia de cubatas.
(5)    Um pequeno ruminante da família do veado, mais pequeno que uma cabra,  também localmente conhecido por bambi ou ainda cabra do mato.
(6)    Homem Branco.
(7)    Uma festa que se realiza quando morre uma pessoa, incluí a cerimónia do funeral.
(8)    Árvore que dá o fruto vulgarmente conhecido por Manga.
 

terça-feira, 5 de março de 2013

Regras para quê?

Mais tarde ou mais cedo teria de acontecer. Finalmente tive a minha primeira experiência de condução em Angola, foi Luanda, a capital a proporcionar esta nova etapa de integração no país que agora me acolhe.
Conduzir em Luanda é de facto um enorme desafio, é difícil para um Europeu entender que aqui só se respeitam menos de meia dúzia de regras, ou melhor, de sinais, "transito proibido" e "sentido proibido" são os únicos a serem respeitados, tudo o resto simplesmente não existe nesta batalha que diariamente Angolanos travam nas ruas da grande Luanda.
Não existem culpados para esta situação, mas os candongueiros, uma espécie de taxis de lotação superior que usam maioritariamente Toyotas Hiace (ler: i asse) contribuem de forma significativa para a desordem que reina no transito, param quando e onde lhes convém para deixar ou recolher um passageiro, mesmo que o façam varias vezes num espaço de menos de 100 metros, o importante para eles é facturar. A proliferação destes veículos azuis e brancos, é tal, que a existência de transportes públicos é diminuta para não dizer inexistente.
Os candongueiros fazem um serviço público não oficial mas controlam os transportes nos locais onde operam.
Depois existem os Toyotas Starlet e Corola que efectuam o mesmo tipo de serviço mas dentro dos musseques, onde as Hiace não vão estão estes veículos, onde estes não vão estão as motas e onde as motos não vão, é porque não existem quatro paredes e um tecto.
Esta é a hierarquia dos transportes na área da grande Luanda. Depois existe o transporte particular, algo que eu ainda estou para descobrir o que é!
Por obra de alguns engenheiros, os Angolanos circulam maioritariamente pela esquerda, é que foram criadas viragens de sentido sempre à esquerda da faixa de rodagem, o que cria filas nessas faixas tanto a tentar sair como a entrar na faixa de sentido contrario, mesmo nas vias modernas a inexistência de nós de inversão é incompreensível.
Foi uma media puramente económica mas que cria enormes dificuldades à fluidez do transito, mas o pior é que mantêm esta intenção nas obras que estão a decorrer e nos projectos futuros lá está reflectida a "brilhante" ideia importada do Brasil.
Voltando à minha primeira experiência de condução por estas paragens, devo confessar que fiquei surpreendido por rapidamente aprender que onde cabem dois carros lado a lado independente do sentido em que circulam cabe sempre mais um no meio e com alguma destreza cabem dois e ainda é capaz de cruzar uma mota.
A Inês, que estava sentada no lugar do navegador, passados alguns minutos de termos partido em direcção ao nosso destino, comenta, "ou entras no esquema ou não andas meia dúzia de metros", foi complicado mas depois de alguns minutos entranha-se e quase conduzi como os Angolanos... regras para quê?

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Gasosa Power.

Uma destas noites fui ao aeroporto com o Luís, o colega de trabalho encarregue temporariamente dos assuntos relacionados com o aeroporto de Luanda.
Eram cerca das duas horas da madrugada quando chegámos ao aeroporto para dar as boas vindas ao regresso de um casal de expatriados que tinha chegado num voo cerca de uma hora antes. Para fazer tempo e poupar uns Kuanzas de estacionamento fomos dando algumas voltas ao circuito do aeroporto.
Foram vagando espaços de estacionamento não pagos aqui e ali, mas nunca se estacionou o Jimny nesses espaços gratuitos, às tantas a opção foi parar temporariamente o carro praticamente junto à porta das chegadas do aeroporto 4 de Fevereiro.
Foi um erro tremendo. Do nada aparece um carro da polícia que nem tempo deu de engrenar a 1ª mudança, zás, “os seus documentos e os documentos da viatura”, solicita o agente de óculos espelhados.
O Luís que estava ao volante só tinha com ele a carta de condução porque tem o passaporte na renovação do visto de trabalho, ambos não conseguimos encontrar os  documentos do carro.
Foi complicado desbloquear a situação, para mais à hora que era, mais agentes chegam ao local, no final eram seis e já se aproximavam mais, a situação só ficou resolvida passados largos minutos e à custa da famosa gasosa.
Uma situação complicada, julgámos nós, por irresponsabilidade de quem utilizou o veículo anteriormente e não deixou os documentos onde os deveria ter deixado, felizmente tudo se resolveu, a carteira é que ficou um pouco mais leve.
Entretanto recolhemos os colegas como bons anfitriões que somos e seguimos em direcção ao escritório porque em primeira instância tínhamos de deixar algumas caixas, depois sim iriamos deixar os nossos colegas recém-chegados à casa onde pernoitam.
Tudo normal até então, a não ser o facto de aparecer uma carrinha da polícia que nos faz sinal de paragem e… “os documentos da viatura e do condutor” diz o agente do alto dos seus quase dois metros. Pensei, “está tudo lixado, é desta que ficamos com o carro apreendido e o Luís ainda vai dentro”, O Luís com meia de letra ainda conseguiu que os agentes deixassem que o carro percorresse os 100 metros que distávamos do escritório, eram três e picos da manhã alguém estava com sede, lá foi a segunda gasosa da noite. Tirando isto a noite foi tranquila.
PS: os documentos estavam no carro, ou pelo menos apareceram do nada dentro do carro algumas horas depois.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O preço da água em Luanda.


Finalmente encontrei a explicação para o ténue fio de água que corria há vários dias nas torneiras de casa sempre que necessitávamos de as usar.
Alguém ávido de água resolveu cortar o tubo e colocar uma mangueira de cerca de 1, 5 metros entre os pontos de tubo saneados, assim facilitava a recolha de água para seu uso, mas provocava uma diminuição de pressão tal que a água nas torneiras de casa em vez de ser abundante mais parecia um sistema de gota a gota.
Identificado o problema foi tempo de o solucionar de forma que não se repetisse a situação vivida nos últimos dias, além de unir devidamente as extremidades de tubo cortadas, resolvemos fazer um bypass e colocar uma torneira de caudal controlado, assim julgamos evitar um novo corte do tubo e facilitamos a obtenção de água a quem a necessitar.
Vamos ver se resulta, este é o preço da água em Luanda!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Nada que 2.500 Kz não resolva...

Sair de Luanda em direcção a norte é uma verdadeira aventura, o trânsito não é infernal, é infernal e caótico, demoramos mais de uma hora para fazer meia dúzia de Km. Ainda dizem que o IC19 é mau!
Esta semana saí de Luanda por varias vezes, na primeira o destino foi a Funda nos arredores de Luanda, sensivelmente entre o triângulo Kifangondo, Cacuaco e Catete, uma zona tipicamente agrícola de gente humilde que trabalha a terra para sobreviver.
A cooperativa local está a apostar na modernização de meios para que possam rentabilizar as produções, nesse âmbito fomos dar uma volta pelos campos por forma a registar os trabalhos que temos de efectuar na melhoria dos acessos externos e internos da área da cooperativa e da regularização de diques e valas que permitem a irrigação das parcelas agrícolas.
Foi aqui que um descuido e a imprudência do condutor levou a que o Ford Ranger ficasse completamente atolado, a chuva que brindou o Carnaval deu lugar à lama por estas paragens, nada que 2.500 Kz e os braços franzinos de nove jovens locais não resolvessem.
No final quis registar fotograficamente o estado em que se encontravam os pneus e os jovens alinharam-se como se de um batalhão de soldados se tratasse, colocaram um sorriso e esperaram o meu clik.
Estavam felizes por terem sido úteis aos “pulas”, mas quem de facto estava agradecido era eu e a restante comitiva.




Há cerca de 24 horas acordei, estiquei as pernas e os braços, tomei banho com um fio de água mínimo, sai de casa e dei com o jipe de um dos companheiros de casa sem vidros, "mas que raio se passou aqui?"
Restava o vidro da frente e um da porta de trás, conseguiram retirar os vidros de uma forma cirúrgica e sem danificar a restante estrutura do veículo, a esta hora já foram vendidos numa da milhares de vendas que se realizam no meio do trânsito, aí vende-se tudo o que possam imaginar, desde a simples água congelada dentro das garrafas a loiças sanitárias, só não vendem a sogra porque dizem que aqui são simpáticas.

Vim para o Mussulo passar este Domingo, tive o meu primeiro "aperto" desde que cheguei a Luanda, passava das 22 horas quando chegamos ao embarcadouro, enquanto aguardávamos pela chata que nos ajudaria a fazer a travessia até ao Mussulo, fomos abordados por um jovem que ficou largos minutos a conversar connosco de uma forma simpática, viria a ser ele a salvar a situação, um grupo de jovem alguns dos quais embriagados que se dirigiam para uma festa no bairro contíguo ao embarcadouro, rodearam-nos e começaram a dirigir insultos em tom ameaçador, o jovem intervém e diz que os Chefes são gente boa além de pronunciar algo totalmente imperceptível, certo é que o grupo tal como chegou partiu e alguns dos jovem pediram desculpa pelo incomodo. Agora friamente analiso a situação com um sorriso nos lábios mas a verdade é que no momento tive algum receio.

Domingo é dia de "pesca", esta manhã tive mais uma experiência, única como só esta terra pode proporcionar. Saímos na chata por volta das 8 da manhã e fomos "pescar"' o Daniel e o André Tchipilica levaram-nos a visitar algumas embarcações que se encontram à deriva pela baía, bem não será bem à deriva porque os seus ocupantes sabem bem onde estão e porque estão ali. Em menos de nada estávamos a negociar a pesca das últimas horas, em 5 paragens comprámos mais de 20 kg de peixe, Pargos, Cachuchos, Ferreiras, Carapaus, Raias, Búzios e alguns Caranguejos. Não vos vou dizer o preço para não ficarem escandalizados, digo somente que em Portugal seria substancialmente mais caro.

Não sei o que me reserva o resto do dia, mas uma coisa sei, a cada minuto que passa fico mais apaixonado por África, o expoente máximo dos últimos dias foi um fantástico pôr do Sol em Mabubas, perto do Caxito, algo que não se consegue transmitir mas que nos enche a alma e coloca um sorriso estúpido no rosto!





sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Luanda, as primeiras 24 horas.

Sempre me disseram que de Africa ou se gosta à primeira impressão ou não se gosta. Assim que sai do avião absorvi a essência do perfume africano, e gostei, apaixonei-me por esta terra de imediato.
Após as burocracias aduaneiras e do curto interrogatório a que fui submetido sobre o que me trazia a Angola, saí finalmente do aeroporto de Luanda, ao fim de mais de uma hora de sauna pelo facto do ar condicionado das chegadas do Aeroporto 4 de Fevereiro se encontrar desligado, “Welcome to Angola” lê-se no interior do Aeroporto.
O primeiro contacto com o trânsito de Luanda superou as minhas expectativas, mas logo que disseram que a esta hora é sempre calmo. De todas as formas nos 6 km que separavam o aeroporto do meu destino deu para perceber que os Angolanos têm uma relação com o trânsito no minino complicada, mas deixarei esse assunto para quando tiver a minha primeira experiência de condução por estas paragens.


O primeiro dia em Luanda acabou de forma um pouco atribulada, o local que me foi destinado para pernoitar não tinha as condições que um Europeu está habituado, nada de especial a não ser o facto do quarto não ter tomadas eléctricas funcionais, do autoclismo não ter água, dos armários terem as costas partidas, da cama ser pequena, valeu estar completamente limpo e de ter um ar condicionado a funcionar na perfeição, ao invés teria sido um verdadeiro pesadelo.
O cansaço da viagem de quase 24 horas que começou em Lisboa e terminou em Luanda passando por Amsterdão e do primeiro dia de contacto com a empresa falou mais alto e assim que cai na cama devo ter adormecido de imediato.
Primeira tarefa do dia dois, reportar ao chefe as condições em que encontrei o quarto, resposta, “isto é África, assim ficas já a contar com o que podes encontrar fora de Luanda, faz parte da adaptação”.
Entretanto estavam preparadas novas acomodações para me receber, desta feita com todas as condições. Aqui não se aplicou a máxima de quem não chora não mama, faz mesmo parte do processo passar por ali.
As minhas primeiras 24 horas em África foram assim, mas o facto importante é que gosto desta terra e gosto desta gente, este é o país que me vai acolher durante os próximos tempos, este é o país que respeito como respeito o meu.