terça-feira, 23 de abril de 2013

...uma tragédia teria acontecido se estivesse a conduzir o habitual Jimny.

 
A madrugada do passado Domingo foi propicia em novas experiências, depois de um excelente jantar em casa de amigos, e já perto da 1 da matina, fui envolvido num acidente de automóvel. Todos os estrangeiros aqui em Angola sabem bem os problemas que isso pode trazer devido ao ímpeto na defesa dos seus que os Angolanos apresentam mesmo não se conhecendo, não foi o caso, felizmente.
Tentarei aqui descrever esta experiência que desde já não desejo a ninguém.
Após ter saído de marcha a trás da garagem do edificio em que jantei , e antes mesmo de engrenar a primeira mudança, escutei uma travagem, olhei pelo retrovisor e observei um carro a tentar controlar a sua trajectória, à velocidade que circulava e fruto da provável falta de manutenção senti que o embate era objectivo, nada podia fazer se não esperar a consequência do embate iminente. Uma travagem de mais de 100 metros não foi suficiente para evitar o choque.
Sem perceber como, o embate no Land Cruiser acabou por ser quase inconsequente devido à resistência do pára-choques em ferro, a colisão verificou-se no canto esquerdo da traseira do meu veiculo, projectando o outro para cima de um separador central desfazendo completamente a sua frente, no momento pensei “morreram todos”, mas felizmente saíram 3 pessoas visivelmente alcoolizadas do seu interior e sem aparentes mazelas.
Foi aqui que realmente começou uma experiência inolvidável apesar de não ser de todo agradável. Após vários telefonemas a policia não aparecia, até que alguém simpaticamente se ofereceu para ir pessoalmente chamar a polícia em troca de 500 Kz, assim foi.
A bater as duas badaladas do dia chegou finalmente a polícia, tomando conta da ocorrência. Neste espaço de tempo o condutor do outro veículo ausentou-se, alguém comentou que fora buscar os seus documentos e beber uma Cuca.
A polícia simpaticamente informa que os problemas de acidentes de trânsito são tratados na esquadra e convida-me a entrar no carro da polícia bem como ao outro condutor. Questionei um dos policiais como seria possível tratar do assunto na esquadra quando o acidente era ali e todas as evidências do mesmo estavam materializadas naquela centena e meia de metros, de nada valeu, fui conduzido à esquadra.
Após alguns minutos de espera no exterior fomos convidados a entrar numa sala às escuras onde se encontravam duas cadeiras em frente a uma secretária, do outro lado sentava-se um polícia munido de uma pequena lanterna. Devido à ausência de luz, tive dificuldade em observar um croqui do acidente, ao qual sugeri a inclusão de mais alguns dados objectivos, nomeadamente outros veículos estacionados no local.
Mas voltando um pouco atrás, assim que me sentei para o inquérito senti de imediato que tudo seria tranquilo apesar das condições em que se iria realizar, o polícia mostrou uma simpatia que não imaginei no curto percurso até à esquadra.
Documentos dos veículos para um lado, identificações para outro, lá fomos à vez explicando a versão dos factos ao policia que a espaços colocava algumas questões, entretanto é pedido para aguardarmos na sala enquanto vão ao local do acidente verificar alguns dados e procurar testemunhas.
Passados uns longos 40 minutos às escuras na sala, o condutor do outro veículo abandona a mesma dirigindo-se para o exterior da esquadra, por sua vez decidi manter-me sentado, às escuras, com um calor insuportável e continuando lentamente a ser devorado pelas melgas existentes na sala.
Não tardou um minuto para regressarem os policiais, informando o outro condutor que não iriam tolerar faltas de respeito às suas ordens e que caso tal se voltasse a verificar passaria a noite numa cela. Acho que foi o único momento em que esbocei um ligeiro sorriso.
Após mais algumas diligências processuais, tive dificuldade em recuperar os meus documentos pessoais, mas no final acabaram por me serem devolvidos sem que o outro condutor se tivesse apercebido, uma vez que é comum os documentos tanto pessoais como dos veículo ficarem na esquadra para serem fotocopiados no dia seguinte uma vez que era noite, neste caso implicaria com muita sorte a devolução na segunda-feira.
Com isto, já passava bem das 4 horas da manhã, quando consegui tranquilamente obter o número do processo e abandonar a esquadra na companhia dos meus amigos que me acompanharam em carro próprio até à esquadra e pacientemente aguardaram que tudo se resolvesse, a eles o meu muito obrigado.
Apesar das horas que demoraram as coisas a ficarem resolvidas, tudo foi serenamente tratado, devo realçar a simpatia dos polícias no modo como conduziram todo o processo. Tal como disse anteriormente, foi uma experiencia que não desejo a ninguém mesmo tendo terminado como terminou.
Ao terminar estas linhas tenho plena consciência que na madrugada de Domingo acabou por existir um verdadeiro milagre, uma tragédia teria acontecido se estivesse a conduzir o habitual Jimny.

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