quarta-feira, 17 de abril de 2013

...a vida não tem preço!

Desde que cheguei a Luanda que existe algo que me atormenta, a insegurança que se sente ao virar de cada esquina apesar de ser uma das capitais do mundo com maior presença policial por metro quadrado. É certo que evitamos passar perto da polícia, pelo menos quando estamos ao volante, mas esse é outro assunto.
O que quero reflectir aqui é que as ruas de Luanda continuam a transportar perigo, quer nos acidentes fruto da velocidade e do desrespeito das regras de trânsito, quer nos assaltos á mão armada, muitos destes em plena luz do dia.
A grande maioria dos assaltos à mão armada são realizados aos condutores de automóveis, os assaltantes aproximam-se em motas, apontam uma arma e pedem que se entregue todos os valores que tenhamos, depois arrancam a toda a velocidade pelo meio do trânsito, sem existir qualquer tipo de possibilidade de identificação.
O maior problema é que estamos nas mãos deles, é como uma roleta russa, é real a probabilidade de se disparar a arma, depende do modo como reagimos e do humor dos assaltantes.
O melhor conselho que posso dar é que em caso de assalto e sempre que se observe a presença de uma arma, o melhor é não pensar e entregar tudo para não se correr muitos riscos. O crime constitui um grave problema em Luanda.
Vou escutando aqui e ali alguns relatos de assaltos à mão armada, tanto a Angolanos como a estrangeiros, alguns deles manifestam uma violência extrema, são meramente relatos de boca em boca sem qualquer tipo de relevo dado pela comunicação social, a meu ver um erro, pois a sua divulgação serviria de alerta e promoveria a prevenção.
Esta minha tormenta sobre a insegurança, aumentou desde o momento que tomei conhecimento de um assalto a alguém que me é próximo.
O Pedro e o Carlos, como lhes vou chamar para não identificar as pessoas em causa, dois Portugueses, estavam em casa tranquilamente a dormir, pouco passava das zero horas quando escutaram alguém que tentava arrombar a porta.
Não conseguiram, fez-se silêncio durante alguns minutos, o suficiente para o Pedro e o Carlos levantarem ligeiramente a guarda e respirarem de alívio.
Ainda não recompostos viram o vidro da sala ser desfeito pelo arremesso de um bloco de cimento e a casa invadida por cinco assaltantes de armas em punho.
O Pedro tentou reagir e foi apunhalado num ombro, um golpe suficientemente profundo para o imobilizar e evitar qualquer tipo de reacção por parte do Carlos.
De arma apontada à cabeça, o Pedro foi obrigado a entregar alguns bens de fácil transporte que tinha em casa, 3 portáteis, 5 telemóveis e algum dinheiro considerável, não contentes arrastam o Pedro para fora da casa até ao seu carro e obrigam-no a entregar mais dinheiro que se encontrava no interior da viatura, isto porque o Pedro de arma apontada à cabeça não teve alternativa se não aceder a tudo por forma a preservar a sua vida.
Obrigado a regressar ao interior da habitação, o Pedro junta-se ao Carlos que estava de joelhos no chão manietado por um dos assaltantes, antes da fuga, os cinco assaltantes que aparentavam andar na casa dos 20 anos, disparam alguns tiros indiscriminadamente no interior na casa e desaparecem na noite escura que nem ninjas.
Durante este assalto que foi estimado em cerca de 15 minutos, não existiu qualquer reacção por parte de vizinhos, como aliás seria de esperar. No final foi um enorme susto que poderia ter valido a vida de ambos.
A grande curiosidade deste episódio, foi que o habitual guarda da residência nessa noite não compareceu ao trabalho, e até hoje não deu mais sinal de vida.
Situações como esta infelizmente são comuns aqui em Luanda, este relato é real e aconteceu há menos de 72 horas.
As armas de fogo utilizadas nestes tipos de assaltos provam que o processo de desarmamento da população deverá carecer de maior sensibilização e intervenção das autoridades policiais Angolanas, sobretudo com medidas enérgicas de punição aos infractores.
A paz social que todos pretendem e que felizmente vai aumentando de ano para ano, exige todavia uma acção contínua, designadamente na garantia da segurança de pessoas e bens, ninguém se pode esquecer que a vida não tem preço!

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